O concurso público da Prefeitura de Joaquim Nabuco tornou-se alvo de polêmica após a atual gestão iniciar um processo para sua anulação. Organizado pela Fundação Vale do Piauí (FUNVAPI), o certame, cujas provas foram aplicadas em 17/11, seguiu padrões de transparência e qualidade, mas vem sendo alvo de alegações que carecem de fundamentação técnica. Interlocutores e críticos da tentativa de anulação levantam suspeitas sobre as reais motivações da gestão municipal. Há quem afirme que a insatisfação se deve ao fato de o resultado do concurso não beneficiar pessoas ligadas à administração, como inicialmente esperado.
Uma das principais críticas apresentadas pela administração é a anulação de 30 questões, o que foi apresentado como indício de irregularidades graves. Contudo, uma análise detalhada demonstra que esse número resulta de um entendimento equivocado. Muitas questões anuladas eram comuns a provas de diferentes cargos de mesmo nível de escolaridade, o que reduz significativamente o impacto real. Por exemplo, uma questão de matemática aplicada a cinco cargos do nível fundamental representa apenas uma anulação técnica, mesmo que afete todos os cargos onde foi utilizada.
No caso específico de Joaquim Nabuco, a questão 19 foi aplicada em provas de cinco cargos distintos e teve apenas uma anulação técnica, impactando todos os cargos em que apareceu. Já as questões 11 e 17, relacionadas aos fundamentos da educação, foram usadas em provas de oito cargos da área educacional e, apesar de contabilizadas separadamente para cada prova, representam apenas duas questões anuladas no total. Essas anulações ocorreram dentro da margem de subjetividade e interpretação esperadas em certames desse tipo, sem erros estruturais graves ou inclusão de temas fora do edital.
Fazendo um paralelo, por exemplo, o concurso de Ipojuca, realizado pela banca INDEC em 2024, teve 15 questões anuladas em um certame com 24 cargos. Já em Brejo da Madre de Deus, o concurso da ADMTEC apresentou 174 anulações em um edital com 65 cargos. Em ambos os casos, as anulações foram consideradas normais e os concursos foram homologados.
Além disso, as alegações sobre irregularidades nas vagas destinadas a pessoas com deficiência (PCD) não se sustentam. Especialistas consultados pela equipe do Jaula asseguram que o concurso cumpriu integralmente a legislação federal, a Constituição de Pernambuco e as orientações do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A banca FUNVAPI usou critérios atualizados para cada época em cidades como Agrestina (edital 2024), Riacho das Almas (2023), Jupi (2022), Feira Nova (2022) e Venturosa 2021. Esses concursos foram homologados e os aprovados em sua maioria estão trabalhando.
Críticos também apontam que a gestão não ofereceu condições de preparação aos candidatos locais. Não foram implementados programas de qualificação ou cursos preparatórios populares, o que dificultou a competitividade dos moradores da cidade. Apesar disso, a organização do certame garantiu que o processo fosse justo e que o resultado refletisse o mérito dos candidatos.
Além das suspeitas sobre a tentativa de beneficiar aliados, surgem acusações de que o município estaria evitando homologar o concurso para não pagar à FUNVAPI os valores devidos pela realização do certame, mesmo após arrecadar as taxas de inscrição. Essa situação gera insegurança para os candidatos e coloca em dúvida a credibilidade da administração municipal. A hipótese de tentar retardar a nomeação dos aprovados e manter contratos precários e ilegais também não é descartada.
Enquanto a gestão insiste na tentativa de invalidar o concurso, a Promotoria de Justiça acompanha o caso e enfatiza a necessidade de um devido processo legal antes de qualquer decisão definitiva. A FUNVAPI, embora não tenha se pronunciado oficialmente, por sua vez, reafirma a lisura do certame, que foi conduzido de maneira ética, transparente e dentro dos padrões esperados para processos dessa natureza. A situação, além de frustrar os candidatos que se dedicaram ao longo do processo, evidencia possíveis interesses políticos e administrativos que podem estar influenciando as ações da gestão.