A Prefeitura do Recife está enfrentando uma série de desafios financeiros que, segundo especialistas, tornam difícil a proposta de reajuste para os servidores municipais, especialmente para os professores da rede pública. Recentemente, a gestão de João Campos (PSB) propôs um aumento de apenas 1,5% no salário dos professores, retroativo a janeiro, além de um acréscimo de R$ 1 no tíquete-alimentação. A proposta foi considerada “insuficiente” e “frustrante” pela classe, que decretou estado de greve após assembleia realizada no dia 10 de abril.
A insatisfação dos profissionais é reflexo de um contexto mais amplo de insustentabilidade financeira da gestão municipal. A prefeitura, apesar de afirmar compromisso com a valorização do magistério, apresenta uma série de obstáculos econômicos que dificultam o atendimento às demandas dos servidores. Segundo o Sindicato dos Professores da Rede Municipal (SIMPERE), a demora na negociação e o baixo índice de reajuste são vistos como uma demonstração de descompromisso da gestão com a categoria, especialmente após o anúncio de um aumento de 25% no número de cargos comissionados e funções gratificadas na Prefeitura.
O projeto de lei, sancionado, prevê um aumento de 25% no número de servidores “extra quadro”, ou seja, comissionados e funções gratificadas. Este aumento, segundo dados do Portal da Transparência, resultaria em 3.906 servidores em cargos não efetivos, o que geraria um impacto de R$ 65 milhões aos cofres municipais. Esta medida ocorre em paralelo ao crescente endividamento da cidade, que, de acordo com o Valor, pode ultrapassar os R$ 2 bilhões. A gestão também tem destinado recursos significativos a ações de propaganda e festas, com gastos superiores a R$ 600 milhões no ano passado.
A classe trabalhadora do Recife se vê cada vez mais distante de um reajuste salarial digno, considerando o contexto de má gestão dos recursos públicos. Com o endividamento crescente e as promessas de aumento de cargos para servidores de alto escalão, os servidores municipais, especialmente os professores, expressam cada vez mais desconfiança na capacidade da administração municipal de honrar compromissos com a valorização dos trabalhadores da educação.
Enquanto a Prefeitura do Recife se vê em meio a uma crise fiscal e política, a sociedade cobra um posicionamento claro sobre a aplicação da Lei Nacional do Piso Salarial Profissional do Magistério, que estipula um reajuste de 6,27% para este ano. No entanto, a falta de respostas da gestão municipal e a proposta de reajuste abaixo do esperado geram um clima de insatisfação generalizada, alimentando as mobilizações da classe trabalhadora.
O cenário se desenha desafiador para a gestão de João Campos, que precisa conciliar seu projeto de reestruturação administrativa com a crescente pressão por melhorias nas condições de trabalho e remuneração dos servidores municipais.