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Editorial: CNU dos Professores precisa de adesão ou será um fracasso

 

A Prova Nacional Docente (PND), parte do Concurso Nacional Unificado (CNU) para professores, surge como uma proposta inovadora do Ministério da Educação (MEC) para padronizar e qualificar a seleção de docentes na educação básica. Contudo, há uma questão crucial que ainda paira no ar: haverá adesão suficiente para tornar o certame viável?

Se por um lado a ideia de um concurso nacional parece promissora, por outro, sua aceitação por estados e municípios ainda é incerta. Historicamente, a realização de concursos públicos, especialmente em âmbito municipal, é um tema sensível. Muitos gestores preferem seleções simplificadas ou processos seletivos temporários, evitando a obrigatoriedade da estabilidade dos servidores. Além disso, a maioria dos concursos municipais ocorre sem custos diretos para as prefeituras, já que muitas bancas organizadoras assumem o risco financeiro em troca das taxas de inscrição. Em alguns casos, os próprios municípios arrecadam com a realização dos certames, o que levanta uma dúvida sobre o real interesse em aderir a um modelo centralizado, no qual perderiam esse controle.

Para Saulo Oliveira, diretor de ensino do Jaula Cursos, “o governo precisa oferecer vantagens concretas para quem aderir ao concurso. Caso contrário, o CNU dos Professores pode flopar, com baixa adesão. Estados e municípios precisam enxergar benefícios financeiros ou administrativos para abrir mão de seus próprios processos seletivos”. A falta de incentivos claros pode significar que muitas redes de ensino simplesmente ignorem a proposta, mantendo suas seleções tradicionais.

Já para Eraldo Berlarmino, presidente do Jaula, ainda é cedo para desenhar com clareza o futuro do certame. “Se for adotado um modelo semelhante ao SiSU, no qual os candidatos podem reaproveitar suas notas em futuras oportunidades e nas redes que aderirem ao sistema, isso pode fortalecer o movimento. No entanto, sem um direcionamento estratégico, há um risco real de que o projeto não alcance seu potencial”, aponta.

A empolgação com o CNU dos Professores é inegável, especialmente entre os candidatos, que veem no modelo uma chance de disputar vagas em um processo mais transparente e de amplitude nacional. No entanto, a adesão inicial será determinante para o sucesso da iniciativa. O Brasil tem um longo histórico de políticas educacionais que começam com grande entusiasmo, mas não se sustentam por falta de apoio político ou viabilidade prática. É preciso cautela.

Se o governo realmente deseja consolidar o CNU dos Professores como uma política pública permanente, precisa garantir que estados e municípios tenham motivos concretos para participar. Do contrário, o concurso corre o risco de ser apenas mais um projeto ambicioso que não se concretiza.

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