Era uma manhã comum de junho de 2009 quando me encontrei na rotina habitual de ajudar meu sogro, Zé do F4000, a montar sua barraca de feijão no mercado municipal de Canhotinho. Todos os sábados, estávamos ocupados com o comércio, quando, às 10 horas, o anúncio no rádio AM Difusora 1210 causou um frisson e mudou o rumo do nosso dia. Entre os chiados característicos da velha rádio, ouvi atentamente o locutor anunciar o novo concurso público da prefeitura. Foi um momento marcante, registrado na história da cidade, pois naquele fatídico 27 de junho de 2009, o prefeito Álvaro Porto Barros assinou o último edital de concurso público do município. Esse relato é de Antônio Fernando, um concurseiro de Garanhuns, que viveu intensamente aquele momento.
“Naquela época, as inscrições do concurso eram realizadas presencialmente na biblioteca da cidade. Os candidatos, após o pagamento das taxas, recebiam um caderninho com a palavra ‘EDITAL’ estampada na capa,” explicou. “O concurso ofereceu 218 vagas e foi organizado pela extinta banca MGF Serviços. Para participar, peguei uma Caravan na Rua da Madeira poucos dias após aquele anúncio e fui efetivar minha inscrição. Com o salário mínimo estabelecido em R$ 465,00, os cargos oferecidos eram considerados bem remunerados, atraindo muitos interessados,” relembrou o ex-feirante com um ar de nostalgia.
O início da gestão de Álvaro Porto foi um período de grandes expectativas para Canhotinho, uma cidade que, tradicionalmente, havia sido negligenciada pelo poder público.
Contudo, nos últimos 15 anos, a ausência de novos concursos públicos é notável. Mesmo com o crescimento e o desenvolvimento proporcionados pela gestão contínua da família Porto, a cidade não anunciou novos concursos, o que é contraditório considerando a estabilidade administrativa e o apoio do renomado conselheiro do TCE, Sr. Carlos Porto. Atualmente, Canhotinho é governada pela Auditora da Receita Federal, Sandra Paes, mas a expectativa por novos concursos permanece insatisfeita.
Raras foram as seleções simplificadas realizadas nos últimos anos, e a situação de contratações ilegais tem sido um problema persistente. Em 6 de janeiro de 2022, o TCE constatou 721 contratações irregulares em Canhotinho. Dados recentes do TCE revelam que a cidade possui:
– 609 contratações por excepcional interesse público, totalizando R$ 1.470.127,08 (52,59%).
– 437 servidores efetivos/vitalícios, somando R$ 1.360.839,80 (37,74%).
– 105 cargos comissionados, com um total de R$ 350.452,56 (9,07%).
Mesmo com as recomendações do TCE para a realização de um novo concurso, não há movimentações para que isso ocorra em curto prazo. A população de Canhotinho continua aguardando por uma gestão que valorize a transparência e a legalidade na contratação de servidores públicos, esperando que a cidade retome o caminho de oportunidades e crescimento sustentado.